
Qual será o futuro da Educação Executiva?
As principais escolas de negócios em todo o mundo passarão por transformações importantes em um futuro próximo. A ascensão de carreiras alternativas, o surgimento do MOOCs – Massive Open Online Courses –, e a ascensão do ensino à distância obrigarão os programas de MBAs e MBAs Executivos a mudarem seus currículos e a usarem novas tecnologias de ensino, se quiserem manter sua relevância nos próximos anos. Porém, será que as escolas de negócios são tão inovadoras quanto ensinam aos participantes de seus programas executivos? Seus cursos ainda serão relevantes em um mundo mais complexo e menos previsível?
Mudanças nos currículos.
Uma das principais diferenças em relação à estrutura dos programas para executivos é a mudança de uma experiência de ensino marcada por “início-meio-fim” para um modelo contínuo de aprendizagem [1]. Ao invés de incorporar conhecimentos e experiências por um tempo delimitado (no caso a extensão do curso), os participantes de programas de educação executiva passarão a viver uma experiência de aprendizado constante. Isso ocorrerá por que a crescente complexidade do mundo dos negócios exige atualizações frequentes dos conhecimentos necessários.
Outro câmbio necessário para lidar com um cenário de negócios em constante mudança é o foco na abordagem orientada a projetos, que envolverá habilidades interdisciplinares. Por exemplo, em vez de aprender sobre Fusão e Aquisições, Inovação e Negócios Internacionais separadamente, os executivos globais precisarão buscar modos de entrada inovadores em mercados estrangeiros ou a entender como um processo de aquisição padronizado precisará ser alterado para permitir que uma empresa multinacional entre em um mercado com características culturais e ambiente de negócios muito distintos de seu pais de origem. A educação empresarial focará em soluções que surgirão através do conhecimento cruzado entre conteúdos que anteriormente eram apresentados separadamente. A aprendizagem baseada em experiências provavelmente será o nome do jogo.
O futuro da educação gerencial também dependerá da capacidade das universidades em criar plataformas e ecossistemas para alcançar gerentes que queiram aprender em todas as etapas de suas carreiras. As plataformas HBX (da Escola de Negócios da Universidade Harvard) e MITX (do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) são apenas dois exemplos de plataformas educacionais que podem ser utilizados tanto pelos seus alunos de educação executiva quanto pelo público em geral.
Em relação ao foco dos programas executivos, originalmente eles se concentraram na maximização do valor dos acionistas; portanto, os cursos tradicionais fomentavam uma visão muito estreita do papel das empresas na sociedade. No entanto, atualmente o gerenciamento de um negócio é mais desafiador por que hoje em dia existem muito mais interfaces com as quais os gestores precisam lidar, tais como demandas da sociedade civil por modelos de negócios sustentáveis, restrições comerciais devido aos blocos comerciais e transparência nas relações com governos e empregados, por exemplo. Consequentemente, os programas executivos precisam não apenas treinar diretores para tomar melhores decisões para os acionistas, mas também tomar melhores decisões para a sociedade na qual as empresas estão inseridas. Presidentes de empresas precisam de programas adequados para ajudá-los a “conectar os pontos” em um mundo no qual os pontos são bem mais difíceis de indentificar. A exposição a temas como o impacto ambiental dos negócios, o empoderamento das mulheres e a inclusão social, que no passado não estavam na agenda das empresas, atualmente são assuntos de diferenciação entre os melhores programas para executivos.
Relativamente ao método de ensino, os estudos de caso e as atividades de role-playing eram as principais ferramentas para a análise de situações vividas pelas empresas e foram usados tanto para o reconhecimento de padrões de problemas recorrentes nas organizações quanto para a identificação de soluções aplicáveis. Contudo, a crítica que sempre foi feita é que estes métodos são demasiadamente teóricos, ao passo que a administração de empresas é uma atividade prática. Desse modo, ainda que entender o passado seja importante, os gerentes precisam se adaptar rapidamente aos cenários com mudanças, que serão os encontrados mais facilmente no futuro. Situações de negócios com alterações frequentes necessitam de programas educacionais baseados em competências, orientados a projetos, com forte conteúdo internacional e com técnicas para lidar com situações de complexidade.

Diversidade de participantes dos programas de educação executiva
A nível de diversidade nas salas de reuniões, embora que ainda esteja aquém do desejado, aumentou razoavelmente nos últimos anos por que as posições de CEOs não mais são mais ocupadas apenas por homens brancos e de meia-idade. Essa diversidade também deve ser enfatizada na audiência de programas para executivos, para ajudá-los a construir conexões e enriquecer as perspectivas do mundo em que vivem. A diversidade deve ser explorada na sala de aula para fornecer aos alunos as oportunidades e as experiências necessárias para trabalhar em equipes culturalmente diversas. Uma pesquisa realizada recentemente por Jang [2] descobriu que as organizações que usam equipes culturalmente diversas obtêm melhores resultados.
Educação para o mundo real ou Pesquisa Acadêmica: uma antiga divisão
Provavelmente, o antigo cisma que divide as escolas de negócios chegará ao fim. Enquanto muitos programas tendem a desenvolver excelência apenas em educação executiva ou em pesquisa acadêmica, a interface entre pesquisa e o mundo real será cada vez mais fluida porque programas de educação empresarial serão cada vez mais avaliados pelo impacto que eles trazem para os negócios, para a sociedade, e para o mundo acadêmico. Embora as principais instituições, como o ecossistema Oxbridge no Reino Unido, as Ivy League nos EUA e algumas escolas de negócios na Europa continental sejam relevantes tanto na pesquisa quanto na educação executiva, elas são as exceções que justificam a regra geral. A convivência entre pesquisa acadêmica e educação executiva é saudável por que um programa de acadêmico robusto aumenta a qualidade do conteúdo educacional, enquanto que programas de alto calibre atraem executivos com problemas interessantes, que desafiam a pesquisa acadêmica em administração de empresas.
Programas relevantes fora dos Estados Unidos e da Europa
Como mencionado nos tópicos anteriores, as universidades de excelência parecem apresentar o efeito de cluster, por que elas estão localizadas em áreas específicas ao redor do mundo. No entanto, como mostra o ranking 2018 de programas personalizados de MBA Executivo, elaborado pelo jornal Financial Times [3], 11 das 50 melhores e 5 das 20 melhores escolas de negócios do mundo estão na Ásia, na América Central e na América do Sul. Escolas de negócios de alta qualidade situados em países não-tradicionais em educação executiva aumentam a concorrência neste tipo de setor, e ao mesmo tempo reforçam a importância de um entendimento global do mundo de negócios.
O futuro do trabalho e da educação executiva
A natureza do Trabalho como conhecemos está sendo transformado de uma tarefa individual para um modelo colaborativo. Como o artigo do NYT [4] mostra, o tipo de emprego que mais cresce é aquele com maior necessidade de habilidades sociais. Os empregos do futuro exigirão que as pessoas trabalhem de modo cooperativo, em pequenos grupos, compartilhando e negociando constantement com colegas de trabalho. Portanto, a educação empresarial deve se concentrar no desenvolvimento de habilidades que melhorem a qualidade das interações, como flexibilidade cognitiva, negociação, coordenação, pensamento crítico, criatividade, inteligência emocional e gestão de pessoas. Muitas dessas habilidades podem ser ensinadas em escolas de negócios, porém ainda há muito a ser feito. Como foi apresentado por David Garvin [5], “O primeiro tema mais citado… foi a necessidade de estudantes de MBA cultivarem uma maior autoconsciência… O segundo tema mais ouvido foi a necessidade de habilidades práticas: como fazer uma reunião, apresentar e dar feedback de desempenho. O terceiro tema foi a necessidade de os MBAs desenvolverem um melhor senso das realidades das organizações nas quais os líderes operam. Política, questões de poder, coalizões e agendas ocultas fazem parte dessa realidade… [os gestores] precisam desenvolver a inteligência cultural, e especificamente ter uma melhor compreensão de quais práticas, estratégias e comportamentos são universais e que são contingentes”.
Espera-se que a natureza do trabalho mude drasticamente devido ao aumento das tecnologias de automação (tais como a inteligência artificial, o uso de robôs, a impressão 3D) e a crescente dependência de tecnologias de comunicação móvel [6]. Essa ruptura acelerada que ocorre nos postos de trabalho terá consequências que vão além de uma redução no número de empregos. Os únicos trabalhos não serão automatizados serão os de gestão e liderança. [7]

Mudanças na estrutura da indústria de educação de gestão
Universidades e escolas de negócios podem ser segmentadas da mesma forma que as indústrias tradicionais [8]. Enquanto algumas escolas de negócios estão focadas em Educação Executiva, como o IMD, que oferece apenas programas MBA e MBA Executivos, outras instituições, tais como a Escola de Negócios Saïd, da Universidade Oxford, oferecem simultaneamente programas de pós-graduação strictu sensu (mestrado e doutorado) e de latu sensu tal como os de educação executiva. Como qualquer empresa sob forças competitivas globais, os programas de educação gerencial possuem várias oportunidades de crescimento, tais como as alianças estratégicas (por meio de parcerias entre escolas internacionais, como o Programa One MBA), Fusões e Aquisições e diversificação. O jogo estratégico está aberto para as escolas de negócios.
Conclusões
Por muitos anos, a educação executiva tem estado sob pressão. De um lado, os executivos buscam educação de alta qualidade para ajudá-los a entender a complexidade dos negócios em um mundo volátil. Por outro lado, as empresas procuram programas educacionais para desenvolver líderes para irão contribuir para o sucesso de seus empregadores. No entanto, o mundo mudou devido aos fatores tais como a globalização, o desenvolvimento tecnológico, as mudanças demográficas e a ascensão de um mundo centrado na Ásia. Escolas de negócios responderam a esse novo mundo com diferentes estratégias: mudanças nos currículos, abordagem colaborativa, desenvolvimento de experiências de imersão em diversas culturas, uso de tecnologia, parceria na criação de conhecimento entre academia e indústria, e desenvolvimento de uma abordagem de aprendizagem contínua.
As escolas de negócios estão sentindo a pressão da mudança. Serão elas capazes de aplicar o que ensinam em seus próprios cursos?
Evodio Kaltenecker, Ph.D., é pesquisador em administração de empresas e professor de estratégia e internacionalização em diversas escolas de negócios, tais como o InstitutoTecnológico de Monterrey (México), a WU Vienna University of Economics and Business (Austria), o Management Center Innsbruck (Austria), a Samuel C. Johnson Graduate School of Management da Cornell Univesity (EUA), e a BBS Business School (Angola). Professor-residente no Austral Education Group (USA). Foco em estratégia, América Latina, multinacionais de mercados emergentes e negócios internacionais. Bacharel em Metalurgia pelo Instituto Militar de Tecnologia (IME), Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), MBA pela Harvard University e Ph.D. em estratégia de internacionalização e cadeias digitais pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI/USP).
Lisa Kahle-Piasecki , Ph.D., APTD É professora associada de Administração de Empresas na Universidade Tiffin (EUA) com experiências no setor de ensino superior. Pesquisadora e consultora com foco nas práticas de treinamento e desenvolvimento para empresas multinacionais listadas no ranking da Fortune 1000. Professora Internacional Visitante do Instituto Tecnológico de Monterrey (México). Ela é membro do corpo docente regular no programa de MBA Executivo da Universidade Tiffin em Bucareste, Romênia e possui experiências de ensino na Costa Rica.
Referências Bibliográficas
[1] Weybrecht, Giselle. The future MBA: 100 ideas for making sustainability the business of business education. Routledge, 2017.
[2] Jang, Sujin. The most creative teams have a specific type of cultural diversity. Harvard Business Review. Extracted Jul 24, 2018.
[3] http://rankings.ft.com/exportranking/executive-education-customised-2018/pdf, extracted Jul 31, 2018.
[4] https://www.nytimes.com/2015/10/18/upshot/how-the-modern-workplace-has-become-more-like-preschool.html, extracted Jul 31, 2018.
[5] https://hbswk.hbs.edu/item/what-is-the-future-of-mba-education, extracted Jul 31, 2018
[6] https://www.efmd.org/images/stories/efmd/downloadables/SLP/Santiago_Iniguez.pdf, extracted Aug 1, 2018
[7] Union of International Associations. (2017). Negative social effects of automation. The Encyclopedia of World Problems and Human Potential. Extracted August 5, 2018.
[8] https://hbr.org/2018/07/the-most-creative-teams-have-a-specific-type-of-cultural-diversity
Opinions
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Very important reflection! Thanks Evodio and Lisa!
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Thanks Gregorio Suarez!! EK
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